O imaginário das linhas de Daniela Antonelli
Mul.ti.plo Espaço Arte inaugura individual da artista carioca com trabalhos inéditos em papel, esculturas e um rolo em filme poliéster com 50 metros de comprimento
No início, era o traço. Fino, delicado, sistemático. Linhas que se entrecruzavam, povoando a superfície do papel. E pontos. Minúsculos pontos que juntos davam forma às ideias da artista plástica Daniela Antonelli. Mas isso foi no início – em 2008, quando iniciou uma pesquisa sobre o desenho. Hoje, o desenvolvimento de sua linguagem levou o trabalho a encontrar outros caminhos apontados por suas linhas e pontos. Eles continuam lá – porém livres e conectados a outras formas, outras técnicas e como continuidade de um pensamento sobre arte que explica a obra: “No meu trabalho a prática surge antes da teoria. Está intimamente ligada ao processo, ao fazer. A arte nos conecta com algo intangível”, diz Daniela. Essa liberdade conquistada poderá ser vista na exposição que a galeria Mul.ti.plo Espaço Arte inaugura no dia 29 de março, e que reúne trabalhos de diversas dimensões – em sua maioria desenhos sobre papel, como um desenho em um rolo de 50 metros de comprimento -, além de duas esculturas.
Este último trabalho, chamado Rolo #3, resume a trajetória de desenvolvimento e descobertas de sua linguagem: levou um ano para ser finalizado, sem nenhum estudo prévio do resultado. “Foi realizado por etapas, cada uma com 1m50 mais ou menos, e surgiu instintivamente, intuitivamente. No final identifiquei um novo elemento do vocabulário que foi incorporado à linguagem”, explica Daniela, que completa: “Vejo na trajetória do meu trabalho que parti do micro para o macro e que cada trabalho contém o todo dentro de si.” Todas as obras são recentes e inéditas, basicamente em nanquim (eventualmente aparecem lápis de cor e pigmento) e em cores primárias – azul, vermelho, amarelo, além do preto. Na mostra, o amarelo (“Uma cor difícil, quase temperamental”, diz a artista) aparece pela primeira vez.
São 36 desenhos de 20cm x 20cm que compõem um grande mosaico desta nova fase. Além deles, desenhos em grandes dimensões, um díptico, um tríptico, o rolo de 50 metros (em nanquim sobre filme poliéster) e duas esculturas em couro, outro suporte sobre o qual Daniela desenvolve suas pesquisas. “Hoje incorporo no meu trabalho as pequenas sujeiras, interferências que fogem da perfeição, o que antes era impensável”, diz Daniela Antonelli, a primeira artista plástica brasileira a participar de residência da Residency Unlimited, em Nova York, além de ter sido contemplada em 2013 com uma bolsa residência na Fundação West Dean, em Chichester, Inglaterra, fundada por Edward James – conhecido como ‘o mecenas do surrealismo’.